Os Santos Juninos: Santos da Palavra!
Quando aos 17 anos fui trabalhar como voluntário, em Feira de Santana, Bahia, Seu Santo, um senhor que trabalhava na chácara onde eu morava, me disse no dia 19 de março (de 1984):
“Hoje é dia de São José. Quem planta hoje, colhe no dia de São João”.
Dito e feito, plantio no dia 19 de março e colheita no dia 24 de junho.
Belas espigas de milho, pelas vagens de quiabo significavam festa e mesas fartas de alegria, de canjicas, curral, bebidas quentes e frescas, músicas, quadrilhas, arrasta pé.
Desde lá para cá, vivendo nos sertões cearenses, brincando bois no Maranhão ou na Amazônia, pulando fogueira no nosso Rio Grande, as festas juninas marcam a simplicidade e a alegria de estar juntos em comunidade.
E nesses ano a festa foi no “Arraiá da Divino Sabor”, quintal da casa de Sílvio e Cláudia, em terras sagrada dos “nonos Diva e Reni”. Foi lindo demais.
Mas queria também lembrar dos santos juninos.
São João Batista, o qual a tradição reza que acenderam uma grande fogueira para anunciar seu nascimento, já que seus pais, Isabel e Zacarias, não tinham filhos e eram de idade avançada.
Sua festa é celebrada em sua natividade, dia 24 de junho. É o coração do mês junino!
São João foi o santo profeta, o precursor de Jesus. Sua profecia pela palavra levou-o ao martírio.
Santo Antônio, celebrado no dia 13 de junho. As tradições populares o tem como santo das causas e objetos perdidos, santo casamenteiro, santo intercessor da saúde aos doentes.
Minha comunidade, Capela de Todos os Santos, no interior de Farroupilha, tem uma devoção especial por ele.
Meu pai e minha mãe são zeladores do ‘capitel’, uma pequena capelinha dedicada ao santo.
Novenas são celebradas para pessoas que pedem a graça da saúde.
Santo Antônio foi o santo da palavra. O primeiro sermão que realizou foi a convite de um frade, numa grande assembleia onde estavam reunidos frades franciscanos, inclusive São Francisco de Assis.
Lá descobriu-se pregador.
Falava tão firme e forte que, por vezes as pessoas não gostavam de ouvi-lo.
Um dia falou ao mar:
“se as pessoas não me ouvem os peixes me ouvirão” – disse ele.
São Pedro e São Paulo, ambos festejados nos seus martírios, dia 29 de junho, fechando as festas juninas.
São Pedro, logo no início da Igreja, após o Pentecostes, com seu sermão converte mais de 5 mil pessoas.
Todos entendiam a linguagem que falava, tanto hebreus como de outros povos. Pregou a palavra do amor.
É famosa a expressão a um mendicante, que estava impossibilitado de andar:
“ouro e prata não tenho, mas o que eu tenho te dou: em nome de Jesus Cristo, levanta-te e anda”.
São Paulo, foi o grande pregador da palavra, o maior dos missionários.
Atravessou mares, países, foi preso, torturado, e, em nome de Jesus pregou a palavra até o martírio.
De todos os textos escritos por ele, o que mais me toca, e talvez seja o mais conhecido é 1Cor 13,1-13.
O poeta português, Camões, adaptou-o em soneto, Renato Russo em canção:
“Ainda que eu falasse a língua dos homens e dos anjos, se não tivesse amor nada seria. Ainda que…”
Num mundo carente de escutas, boas e benditas palavras, a mística se esvai e a esperança parece nos faltar.
Ouça a voz do teu coração. Deus o habita!
Como diz Rubens Alves, no poema “O Silêncio” do livro “A oração do Pai-Nosso”:
“ouça a voz do profundo, aquela que nasce do silêncio, como se fosse a última palavra.”
E, se a sentires, proclame-a com teu olhar, tua voz, com teu coração e com tua presença. O mundo está carente de palavras bem-ditas e benditas!
Comments: 4
Bom dia ,Gustavo ao ler esse relato,lembrei muito da minha falecida mãe.Dona Libera Bertoletti Mantovani ,que nós passou esses ensinamentos .Obrigada.
Izanete! Que lindo poder reviver esses ensinamentos que continuam contigo, realmente as festas juninas nos rememoram ao berço de família! Abração!
Belo texto! Nos conecta com o Divino! Que o amor seja o nosso alicerce, para tudo que fizermos!
O amor nos transforma. Amém!! Um forte abraço!